Trilhas e flexibilidade de direcionamento da formação

Conversando com colegas e professores nos últimos dias sobre a nova grade e a antiga, cheguei em algumas conclusões e sugestões sobre as trilhas, as quais não sei se seriam viáveis de serem implementadas (e isso depende muito de quem está na comissão de professores, obviamente), mas que acho válido compartilhar. Segue aí:

Opinião principal: esta grade está tão ou mais amarrada que a anterior, mesmo com a redução da carga horária. Objetivo: flexibilizar a escolha das disciplinas para o aluno direcionar a sua formação. Do jeito que está, o aluno é obrigado a fazer duas disciplinas de 3 trilhas. Anteriormente, o aluno poderia fazer quantas optativas quisesse e todas poderiam ser em uma mesma área. Por que não continuar possibilitando isso?

Algumas reflexões, com a carga horária referente a cada retirada de disciplina obrigatória:

1) Não acho que Física Teórica 4 seja um conteúdo realmente necessário para a formação de um engenheiro de computação que não queira seguir com algo específico relacionado à ótica ou fotônica. Não vejo a ausência de Física 4 como um déficit na minha formação. Poderia ir para a trilha de Física. Tenho um pensamento parecido sobre Física Experimental 2, se for nos mesmos moldes que os laboratórios da disciplina de Física 2. [60h + 30h, 4º período]

2) O fato de ter a disciplina de Projeto e Análise de Algoritmos não poderia colocar Teoria da Computação como disciplina 1 da trilha de Algoritmos e Complexidade? Não entendi a necessidade de ambas como obrigatórias. PAA pode ser o pré-requisito dessa trilha. [45h, 6º período]

3) Já sugeri que Sistemas Inteligentes fosse como disciplina 1 da trilha de SI (discussão do 7º período). Estruturas 2 poderia ser o pré-requisito, na minha opinião. [60h, 7º período]

4) Sistemas Distribuídos pode ser parte da trilha de Redes. [60h, 7º período]

5) Deveria ter uma trilha de Sistemas Embarcados. Lógica Reconfigurável poderia fazer parte dela (e deixaria de ser obrigatória também). Sistemas Microcontrolados pode ser o pré-requisito. [60h, 8º período]

6) As humanidades e gestões poderiam ser trilhas também. No mesmo modelo das trilhas, poderia haver uma ou duas humanidades que são consideradas necessárias para a formação como obrigatória(s) e o restante da carga horária o aluno poderia escolher o que fizesse, dentro de um conjunto de disciplinas (que seria de maior número que as disciplinas obrigatórias, por exemplo, incluindo Psicologia, Tecnologia e Sociedade, Libras (?), etc, dando mais liberdade de escolha ao aluno e, possivelmente, ajudando na organização dos horários).

[Update] A ideia das humanidades em formato de trilha não é tirá-las da formação do aluno. Esta seria uma trilha obrigatória, com carga horária mínima estabelecida (que seria a soma das cargas horárias das atuais humanidades), porém, com a flexibilidade de o aluno poder escolher as disciplinas, talvez não todas, para completar esta carga horária.

7) Ideia similar ao 6 para as disciplinas de gestão (incluindo Economia). Retiraram Gestão de Pessoas, uma das disciplinas que eu considero de maior importância deste conjunto. Considerando que existem muitas disciplinas de gestão e que muita gente faz como optativa, poderia ter uma trilha de gestão que, no mesmo molde da trilha de humanidades, possuiria uma quantidade mínima X de disciplinas para serem feitas. Se o aluno quiser continuar com mais disciplinas de gestão (como trilha ou optativa), não seria problema.

[Update] Aqui seria um pouco diferente da trilha de humanidades, pois muitas disciplinas de gestão são ofertadas como optativas e o aluno pode direcionar sua formação também para estas áreas. Logo, a ideia seria também ter uma carga horária mínima obrigatória de gestão, que o aluno pudesse escolher alguma(s) da(s) disciplina(s) para completar esta carga horária, porém, se o aluno quisesse continuar esta trilha, poderia fazer mais disciplinas que valessem além da trilha de gestão, no formato de trilha de formação profissional (como hoje possibilita as optativas).

Conclusão: Já comentei sobre a carga horária do estágio, que parece ter sido dada pouca importância nesta proposta, na discussão sobre o 7º período. Acho que o CREA recomenda 300h de estágio. Não fui muito atrás disso, mas enxugar o estágio para colocar disciplinas não é uma boa saída, principalmente pela maior parte dos estágios serem de 30h/semana (e longe da UTF). Somando isso com as disciplinas, dá uma carga horária semanal muito maior que os períodos anteriores. Assim, com a carga horária das disciplinas que comentei anteriormente, mais a retirada de uma da Oficinas de Integração [45h] (que comentei no tópico do 7º período também), poderia aumentar a carga horária do estágio obrigatório e ainda daria para incluir disciplinas de trilhas, flexibilizando a formação do aluno (e aliviando aquele 7º período insano, principalmente).

Também tenho essa sensação de que a grade está muito amarrada. Eu posso ter entendido errado, mas achei que a proposta inicial das trilhas era dar ao aluno "o poder" de escolher com o que ele quer trabalhar. Assim, ao invés de ter vários conteúdos profissionalizantes específicos obrigatórios, o estudante definiria no que ele quer se especializar. As trilhas ajudaram a flexibilizar a grade, mas ainda temos muitos tópicos específicos obrigatórios que provavelmente não serão usados ao mesmo tempo no mercado de trabalho (apesar de eles terem relação entre si).

Nesse sentido, transformar em trilhas algumas disciplinas como SI, SD, Lógica reconfigurável e até mesmo controle, dariam autonomia para o aluno se especializar no que quisesse, ao invés de aprender todas as coisas ao mesmo tempo. O que se vê atualmente é que por falta de tempo o aluno acaba não aproveitando tão bem as matérias (já que nos períodos finais muitos já estão fazendo estágio, mesmo que não obrigatório).

Então gostaria de acrescentar mais algumas reflexões:

1) Eu particularmente gosto muito da área de controle e gostaria de ter feito Controle 1 e 2 ao invés de Fundamentos de Controle. Mas acho que essa é uma escolha pessoal e não talvez não seja essencial na formação do engenheiro de computação e talvez ela pudesse ser uma trilha. Vários cursos de Engenharia de Computação não possuem essa matéria na grade curricular (UFBA, IME, UFPE, PUC-Rio).

Sei que é muito complicado criar uma nova matéria, mas talvez ao invés de termos esse controle tradicional (que mais parece uma adaptação a grade de eletrônica do que uma real preocupação com o que é essencial para o eng. de comp.), poderíamos ter um controle mais "alto nível", ao estilo dessa disciplina de Modelagem e Controle de Sistemas Discretos do curso de Eng Mecatrônica da USP (queria colocar os links, mas infelizmente o fórum diz que eu não tenho permissão para postar links externos).

2) Sendo a engenharia um curso voltado para o mercado de trabalho, diminuir a carga horária de estágio em detrimento de disciplinas não parece muito adequado. É no estágio que o aluno vai consolidar os seus conhecimentos e aplicar em um problema do mundo real. E com certeza 2 meses para isso não é o suficiente (considerei que o aluno trabalharia 4h por dia, mas provavelmente ele trabalharia 6h, diminuindo ainda mais o tempo).

3) Gostei da ideia da Kaya de dar um pouco mais de autonomia  na escolha das humanas.  Talvez fosse possível ter 2 obrigatórias e 1 a escolha do aluno. Eu sugeriria tornar sociologia optativa, pois a princípio ela é currículo obrigatório no EM e assim, o aluno que já teve esse conteúdo bem dado no EM, poderia optar por outro.

4) De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Engenharia (CNE/CES 1362/2001), seria obrigatório possuir no ciclo básico os conteúdos de Fenômenos de Transporte e Mecânica dos Sólidos. Pode-se considerar que Fenômenos de Transporte é abordado em Física 2, mas acho que o conteúdo de mecânica dos Sólidos não é abordado em disciplina nenhuma. Sendo assim, caso a grade continue sem essas matérias como obrigatórias, apenas cursá-las como optativa é o suficiente para atender as diretrizes?


5) Por fim, sei que esta grade deu muito trabalho para ser reformulada e que há uma ânsia de todos do curso (professores e alunos) de que ela seja implementada logo. Mas após a aprovação da grade perante o conselho, acredito que levará muito tempo para ela ser rediscutida, então talvez fosse melhor fazer mais alguns ajustes agora do que ter que mexer nisso de novo.

Os conceitos básicos e introdutórios de Mecânica dos Sólidos e ResMat são contemplados pela Física Teórica 2: Tensão (Compressão, Tração, e Cisalhamento), Carga, Momento, Elasticidade, Torção, Deformação Elástica, Plástica e Tensão de Ruptura.

Obviamente há espaço para muito aprofundamento em uma disciplina específica... mas Física 2 é suficiente para o futuro engenheiro entender porque a Challenger explodiu.

Kaya, a respeito da parte de física no curso:
-Foram retiradas as matérias de "Fenômenos de Transporte" e "Mecânica" e foi acrescentada "Física 4". A carga horário total acaba sendo até menor. Segundo o Barreto essa é uma abordagem suficientemente completa a aprofundada para o nosso curso. Física 4 abrange ótica, relatividade e mecânica quântica, o que possui relevância direta para:
-Compreender o funcionamento de fibras óticas e a perda de dados/ruídos nesse tipo de sistema de comunicação (que se dá basicamente por difração e não interferências externas)
-Compreender o processo de comunicação por antenas e satélites (ondas eletromagnéticas)
-Entender os delays de comunicação entre satélites e antenas na terra
-Bases para computação quântica (um extra...)

É dificil dizer que esses tópicos não são relevantes para computação. Pessoalmente endosso essa visão: a abordagem suficientemente ampla e aprofundada para todo engenheiro da computação seriam as 4 físicas. Além disso o aluno pode se aprofundar fazendo matérias de trilha ou de outros cursos dentro de seus interesses pessoais